1.11.07
Gosto de poesia. Poesia onde falo sem precisar expor a frase completa. Quase digo. Característa comum de quem responde com silêncio à muitas perguntas e na maioria das vezes, quase diz. Quase. Pois bem. Mas hoje quero escrever corrido, sem versos. Quero escrever sobre minhas unhas roídas e os meus dedos que dóem. Quero não precisar revelar. Quero escrever. Escrever sobre como me sinto segura quando minha mãe está em casa, mesmo que isso só signifique que ela esteja, não necessariamente que eu vá precisar de alguma coisa. De como me emociono com o lirismo do João Cabral de Melo Neto e quase choro sempre que leio o famoso texto de Os três mal amados. De como eu gosto de ser surpreendida. De como me apavoro quando o que me surpreende também me transforma. De como me senti bem em matar uma caranguejeira pela primeira vez. De como é agradável obter uma resposta que indaga e começar uma conversa. De como todas essas coisas 'desimportantes" são o motivo para minha melhor sensação e não faz a menor diferença se meu cabelo tá despenteado, minhas mãos feias, minhas pernas esperando depilação, se ganhei ou perdi quilos, cifras, competições. Eu fico feliz porque o ventilador refresca essa noite quente enquanto digito. Fecho os olhos para aproveitar a sensação do ar na pele e esqueço do que queria escrever. Me ocupo sentindo.