Observo o estranho correr nova cor sobre a velha parede. Algo nisso parece-me tão íntimo que suponho o passeio do pincel também na pele, como se fossémos uma, a casa e eu, tendo rabiscos antigos cobertos por nova cor. Continuo olhando fixa, enquanto o tom alaranjado cobre riscos, numa espécie de abandono ao que havia, entre querer esconder e querer apagar. Continuará sob a tinta nova a velha cor, como uma lembrança negada e o tempo se encarregará de encobrir não só sua textura, mas também seus vestígios. E juntas, a casa e eu, seremos outra, aos olhares e as mesmas, sob os escombros esquecidos no fundo do que sempre fomos.