16.5.08

Às vezes paro a olhar o tempo como exercício ferino de acalmar. É quase fatal tentar desfazer-se da necessidade de estar obrigado para simplesmente ver passar, o tempo. Sento e olho a tarde que cai, um, dois, três, quatro, cinco minutos, já aflito, buscando alguma outra coisa para concentrar-me, como se só ao ver mover algo além do tempo tivesse certeza de estar vivo. Encontro-me um cérebro viciado em visões velozes, desprovidas de minuncias, desligadas de detalhes. Na dificuldade imensa de sentir segundos, de parar. Tento agora acompanhar o relógio, só olhar, os ponteiros, um, dois, três, quatro, cinco, já aflito. Movo a cabeça para buscar distração. E é assim, sem conseguir abstrair-se do distraído, que vamos. Levanto e saio, mirando milhares de quadros simultâneos, sem nada ver. Chego em casa lembrando da tarde, que agora é só um amontoado de acontecimentos, mas não tenho paciência de pensá-los outra vez, há muito passando e não quero perder.