"Não, não é que meus discursos hoje sejam outros... É que agora conheço melhor os inimigos. Esses mesmos dos quais tento defender-te, mas que não sou forte o suficiente para espantar também os teus. Eu sei, eu sei, eu sei que toda essa fala não faz sentido se a cara não for a tapa, porém não seguro o impulso de alertar-te, ainda que em vão. É e é bem por isso que agora silenciar tornou-se meu maior artifício. Não por negligência, mas porque não sei o que fazer se não tens ouvidos pr'os meus gritos, depois sussurros e há pouco fio de voz, já não mais.
E por tanto tempo em companhia disso tudo que não vejo sentido, esse do qual me perguntas, esse mesmo do qual te distrais por embriaguez, costume ou medo. Esse pelo qual o fazem também, os demais. Esse pelo qual o fazemos, todos nós, enquanto adormecidos. Ah e como eu sei o quanto te aborreces dessas palavras por ser-te urgente não lembrá-las. Sinto medo de causar-te a dor de acordar desse sono.
Vês! Não por não querer-te bem que faço-me distante... Desdenho das tuas causas porque não consigo acreditar no que elas são, nas tuas fugas. Mesmo que aí derrames milhares de motivos desmedidos sem sentido para mim. Não, não é por não comover-me tuas lágrimas. É por não acreditar no que as incita. Por sofregamente esperar que vejas a futilidade dessas razões. E sua carga nociva. Inútil.
Então é por isso que me abstenho muda às acusações de insensibilidade, frieza, indiferença. Antes assim que infringir-me ao fingimento de aceitar enganar-me nessas ilusões (como se não, ainda por vezes, deixasse-me seduzir, descontrolada, por elas).
Ah, não me venha acusar!
Pois foi de tanto consumir a podridão que enjoei desse sabor.
Sim, e foi também por demais lambuzar-me em teu desespero duvidoso que preferi manter-me em paz".