4.9.08

Sufocada pelo ar pesado da inverdade, fugi. Deixei longe pelo chão o que feria, sem estancar. Sangrei ainda enquanto andava, mas segura do não querer, despi-me da pele, abandonei promessas falsas, alegrias camufladas, rostos desconhecidos, grande sensação, nenhum sentido. Quando pude respirar, construí uma redoma para guardar a pureza do que restou.
*
*
Vez em quando desconheço
Então volto a ler as cartas
Quase um ano
O que é o tempo?
Fico tentada a rasgá-las
Como se assim pudesse esquecer
Há aqui algo que me foge
Ultrapassa
E não sei compreender
*
*
Guardo lembranças n'uma pasta com teu nome
Para provar-me não sonhar
Mesmo que por vezes distante
Mesmo que por vezes incerto
Mesmo que por vezes dor
Mesmo duvidando, por vezes
Se te quero
Mesmo sem saber para onde vou.
*
*
Passos de engano sombreados por companhias solitárias
Enquanto ardia-me aos olhos a luz
Da qual desviei a buscar desenhos de fumaça
Com as mãos sempre vazias
Imagens da visão submersa
No fundo onde a água abafa o som
Planando n'um vôo falso
De mergulho
Dali as cores como ondas
Lá fora
Flutuam, flutuo
Até perder o ar
Mergulhar é fingir que voa
Quando afunda-se ao invés de subir
É noite todo dia debaixo
Eu quis amanhecer.
*
*
***Textos soltos encontrados n'um caderno por aí.