Milhares de fios colados em mim, tantos
Fios de lembranças que tenho e outros lembram também
Fios que grudam-me aos outros que lembram comigo
Que tecem o que deveriam esquecer e desenham
A memória calada nos olhos que sabem
Fingindo desconhecer os corpos que sentem
Eu conheço o sono que velei e morre
Uma morte fingida do que é sabido e cala
Para deixar que o outro morra também, mas já há lápide
Minha sobre e disfarça em riso, há lembrança
Segue os olhos que pedem, cala o passado
Pulsa ou não pulsa ainda, são tantos
Tantos juntos fingindo-se soltos, reconhecidos
Sabem-se pedaço desunido do que foi junto
Reparte-se a outro agora e pertence a quem?
Sobra o quê do deixado e somos além?
Estivemos tantos outros braços e agora longe
Não desfaz o que foi e a quem?
A quem agora o que não era nós nem voz
O silêncio que fica entre
E os fios prendem
O que os olhos fingem não ver
Disfarça a presença natural do que nem se explicou
Esteve na rapidez do desentendido
Em além agora o que foi é o que?
Outro, outro, outro
Os fios misturam-se
No desespero de desvencilhar-se
Juntos
Ali, em qualquer dos lugares, já esteve, alguém
Somos todos de nós
Finge-se
O que além?
Sós
Sóis que acendem
Não vão apagar a noite que foi
Teias
Estamos todos, vós
Eu na tua cabeça em tantas
Passeio no estar
Tantos
Onde estou?
E tu, onde estás?
De tantos lugares
Qual o fim?
Qual o fim?
Qual o fim?
Somos tantos que fingem não ser
Ah,
Eu não sei.