O dia escorre e ela corre com o dia passando por cima dela, com pressa, ela tropeça nela e reclama o que ela faz ali, atrapalhando o caminho, já que tudo urge, ela tem que correr.
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A urgência dos dias tira-me a leveza de mim e rouba a nitidez dos atos com essência, esquecidos nas gavetas dos poucos minutos restantes entre obrigações, as reais e as que eu mesma exijo, com ou sem precisão. A ânsia de realizar faz com que as várias vontades atropelem-se n'um confudir e perco-me também. Resta tudo embaralhado, trasmutando-se em culpas atiradas em inocentes, descarregos infundados, desequilíbrio. Eu esqueço a leveza sob o peso das exigências. Dos deveres, os devidos e os que eu acho justo dever. Cada segundo analisando o próximo e subestimando o passado. Agora e agora? Agora e agora? Sucessivamente. Eu esqueço a leveza. Eu perco-me naquilo que obrigo-me buscar ser. O ideal tal qual projeto rouba meu reflexo. Já nem olho no espelho. A urgência dos dias rouba-me de mim.
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