27.7.10

A regra era clara: sem mais. Sem mais palavras. Sem mais proximidade. Sem mais. Fosse ser, humano, vivo, qualquer. Sem mais. E só. Nada atravessava. Fosse triste, feliz, o quê. Tantos dias, tantas gentes, tantos tantos. Era fora. O dentro eu era meu. Até o dia em que eu não me bastei.
Abri devagar frestas das janelas dos olhos e alguém olhou. Senti-me tão brutalmente encantada por ser vista, ao receber de volta o olhar que abria. Via em outros olhos o reflexo do meu corpo nu por dentro. Estremecia violenta na impressão de me ver. Uma visão rasgando minhas convicções. Já não poderia esconder-me, se eu mesma já me vira. Então virei-me para o mundo com novos olhos. E o mundo também havia mudado. Ele e eu nos vimos de verdade pela primeira vez.





*Sobre rupturas. Sobre mudanças. Sobre auto-descobertas.
Sobre a primeira parte de uma história nova.