No de repente tuas mãos rasgaram-me o peito e em tua pele grudou-se minh'alma, que passaste então a arrastar aonde fosse, sem intuito, entre os dedos. Por vezes foi tratada sem dó, esquecida, levada por aí, descontrolada. Era tua. E fosse o que fizesse, a teria lá, nas mãos.
Costurando as feridas durante teu sono, minh'alma repousava de leve, pelos cantos. Aí, não era mais uma prisioneira, seguia-te por querer, mesmo que já nem mesmo as mãos se pusessem sobre ela.
Um dia percebestes que, além de tua sombra, algo mais te seguia. "Que fazes?", perguntou surpreso. E respondeu minh'alma: "Eu sempre estive aqui". Tu, com um olhar zombeteiro, duvidou : "Como, se eu nunca te vi?" E passou então a ser seguido, como um espelho, sem acreditar, não só por minh'alma, mas também pela eterna resposta: "Eu sempre estive aqui".