O quarto parece maior, agora. Apoio a cabeça na parede verde morto, polpa de abacate maduro, travesseiros, almofadas, cruzo as pernas, fito o vermelho sangue das unhas, leio, mas cada parágrafo lembra e paro. Olho fixo na cortina pastél sobre a janela negra, parede alaranjada, o quarto cresce, olhos enchem, mas impeço que transbordem. Cortina bege, colher de chá, lata aberta, leite condensado, chocolate em pó, misturo, tento levar à boca sem derramar. Pergunto para mim, que bruscamente interrompo: "Não há o que saber, conforta-te e segue". Concordo, livro debruçado sobre o colo, recolho, leio. Parágrafo, every day, every way is getting better and better, estrelas, júpiter, tiros, chás, (dis) paro. Cortina clara sobre gotas, som do ventilador, ombro levemente molhado, desobedeço-me, desassossego, ainda procuro entender.
*Texto baseado em conto "O dia em que Júpiter encontrou Saturno (Nova história colorida)", de Caio Fernado Abreu.
"Não que estivesse triste, só não sentia mais nada".
*Texto baseado em conto "O dia em que Júpiter encontrou Saturno (Nova história colorida)", de Caio Fernado Abreu.
"Não que estivesse triste, só não sentia mais nada".