11.8.08

Este agosto de escrever-te cartas que não entregarei, como as muitas já entregues das quais não tive resposta. Essas cartas sem papel nem caligrafia, mas ainda dedos, memórias e intuito, talvez paixão. O faço para libertar palavras que são tuas, mas não podes apoderar-te delas, canso agora de não saber por que. Continuo sentindo falta da fome que só tu tens, essa que me surpreende contigo explosão a todo instante. Essa que prende-me no querer estar, instiga e encanta meu olhar embasbacado que nunca te prevê, sem conseguir conter o sorriso ansioso por mais de ti. Guardo a vontade de contar-te de detalhes, minúncias, pequenas percepções, sutilezas, gentilezas, idéias prozaicas, grandes descobertas, investigações (Hoje acordei tarde, consegui me alimentar melhor, conheci uma compositora de música suave, com base em piano e voz, tentei mudar a cor do cabelo, me frustrei com isso ou aquilo, não tive vontade de sair. Consigo reconstituir como se visse a expressão do teu rosto enquanto escuta, o tom de voz em perguntas, pontuando, completando, atento, faminto - como tenho usado essa palavra ultimamente, tempo insaciado). Mas escrevo-te, principalmente, para distrair esse querer dizer, para tentar despitar a angústia de supor não poder jamais, driblar a falta, criando assim nossa correspondência falsa, tornando menos aflita a espera, platônica, do que será.
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And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you

(All my loving - The Beatles)