Me sinto muitas vezes alguém antigo olhando de uma cadeira de balanço, meio antipatizada do entusiasmo alheio pelo que já desvendei. É tão pouco. Trocaria mil vezes o dia e sua vivacidade por essa madrugada livre de humanidade, cercada de luzes, fibras, palavras e vozes artificiais. Gosto de eletrônicos porque são cópias mecanizadas de nós mesmos. Prefiro-me. Tenho descobertas incríveis através de lentes e telas. Pensar em lá fora é outra vez sentar-me na cadeira de balanço, idosa, isenta, indisposta. Irrita-me o entusiasmo. Caras, gestos, risos, embriaguez, vícios. É tão pouco. Trocaria mil vezes todas as possibilidades de diversão fugás por sons e imagens como utilidades eternas nas prateleiras da memória. Viver barato que enfada. Fato. Tão imensamente desprovidos, truques que desfazem-se de graça porque já os desvendei.
**
Não vou ficar como você enfeitando tragédias para confundir inércia com tristeza. Vestindo um drama inventado para justificar o comodismo. Insistindo em autodenominar-se fracassado e poupar esforço. Desperdício. A tentativa é tua covardia escancarada. Corajosos matam-se. Inertes lamentam. E tentam.
**
Talvez um dia algum olhar fixe o meu. Alguma voz rompa o silêncio sem conflitar. Algum anseio alheio prenda a atenção. Alguma outra vida tire meus olhos do horizonte de pensamentos pessoais e não seja um cansaço nem só um descanso à minha distração. O aproximar não seja um descaso nem um passageiro amparo. Talvez um dia aconteça, afinal, um que roube-me de mim [essa vontade intensa de ser só].
*
*
Não, não é nada que você possa mudar, apesar de eu contantemente mentir que seja. E até acho que a palavra nem seria mentira, mas um desejo de que fosse verdade. Quero sentir e às vezes quase acredito. N'outras aborreço-me com esse nada, nenhum fervor, nenhum arrepio, qualquer ser voador que bata asas. O que confunde-me é mais um leve sopro que vôo. Nenhum rasante corta-me por dentro.
*
*
*
*
Não, não é nada que você possa mudar, apesar de eu contantemente mentir que seja. E até acho que a palavra nem seria mentira, mas um desejo de que fosse verdade. Quero sentir e às vezes quase acredito. N'outras aborreço-me com esse nada, nenhum fervor, nenhum arrepio, qualquer ser voador que bata asas. O que confunde-me é mais um leve sopro que vôo. Nenhum rasante corta-me por dentro.
*
*