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Raramente entendo as empolgações e êxtases dessa idade, tão pobres, repetitivas, vagas. Eu e meus 60 anos escondidos em algum lugar da memória. Daí vem alguém admirando o riso, a diversão de um gosto amargo que provei e cuspi. Onde diabos está a cabeça das pessoas que elegem como ídolo o escárnio? O descontrole? Vem alguém admirar o desespero. O que tanto medi forças para afastar. Vem alguém (Ah, que tolo!) perguntar com saudade onde está a parte ébria, que há tanto custo consegui expulsar. Por que não tomas como exemplo a sensatez com a qual sorrio sem artifícios? Por que não conhece-me [as idéias] ao invés de desejar noites que sequer lembrarei? Olhe frente a frente os olhos da desregra. Não admire-a. Corra.

E mais ainda, estou cansada. Cansada de ver gente cansada. Jovenzinhos travestidos de sábios antepassados com expressão de quem muito viu e fragilidade de quem beija o chão no primeiro tapa. Uma quantidade infinda de novos artistas e nenhum talento. As mesmas frases a serem esquecidas daqui a um, dois anos, para tornarem-se bordão dos próximos. Ovelhinhas desnorteadas desfilando pelo pasto pedindo atenção. 'Isso é fase', diria minha mãe. 'Isso é tédio'.

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Eu vejo-me berrando com o rosto quase encostado ao teu
Um mar de exigências, desejos, acusações
Coisas de amor (?)
Cravando os dedos da mão direita no teu maxilar
Obrigando-te a olhar mais dentro ainda dos meus olhos
Agredindo teus ouvidos
Andando aos círculos gesticulando em desespero
Enquanto você olha calado
Olhar de medo
Eu vejo-me surgindo de supresa em frente ao teu carro
Escrevendo ofensas arranhadas nos vidros
Gritando
Obstruindo o trânsito
Revelando teus absurdos em algum programa sensacionalista da rede nacional
Fugindo com teu filho único
Matando teus possíveis amores
Mantendo-te em cativeiro por toda a vida
Eu vejo-me sorrindo por estar ao lado
Encantando-me com palavras simples
Guardando uma ternura doce de sempre estar
Revendo as memórias como afagos
Reconstituindo detalhadamente cada sensação
Confundindo as estrelas do meu céu com o teu
Romanceando...

Puta que pariu, que ódio.

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