28.7.09
Eu ando pela rua com fones de ouvido sem dar importância ao redor. Eu ando pela rua sem fones de ouvido, não me importa o redor. Eu ando por qualquer lugar e não me importa os arredores gerais, porque minha cabeça paira nos arredores que me interessam e para esses eu olho. Olho apertando os olhos se estiver sem óculos (para enxergar um pouco de contornos nos borrões), olho apertando os olhos se estiver de lente (para evitar o certo embaçamento que ela causa), olho de olhos fechados se tiver medo de encarar outros olhos, mas sinto o olhar, olho, olho, olho fixo, olho dormindo, acordado, olho tudo. Quando interessa. De resto, não, eu não presto atenção, o outro lado me distrai, nem ouço. Não consigo me concentrar no que eu não consigo querer saber ou fazer. E ultimamente tenho antipatizado. Tido enjôo do que eu queria porque quando chega eu quero outra coisa e parece que nunca tem fim. Um fastio louco. Atiro balas de bazucas imaginárias em um bando de gente, é engraçado imaginar a forma específica com que cada um possivelmente estribucharia os últimos suspiros no chão. Cada pessoa tem uma maneira pessoal de morrer sob fogo cerrado. Eu queria também ter tirado uma foto da menina que eu vi o ônibus atropelar contorcida no chão, mas tive vergonha. Que tipo de pessoa seria eu no meio da multidão cercando a acidentada se puxasse o celular da bolsa e ele fizesse aquele barulho de "click" que eu não sei desativar? Não, eu olhei de longe, vi pouco por entre as pernas dos abutres. Era sol e eu preferi não me atrasar (mais) pro trabalho. Aliás, o trabalho é outra coisa. É um trabalho? É um curso intensivo de políticas públicas? É uma tentativa que vai ficar sendo refeita por mim e mais por mil como os tantos outros mil que vieram antes? Eu queria pintar. E deixar as imagens pintadas viverem na memória das pessoas. Queria alimentar coloridos nas retinas. Qualquer coisa que produza movimentações além das que somente perpetuam a máquina estatal. O que eu quero? Eu ainda quero estudar o social nos meus tubos de ensaio? Por que eu não saio discutindo comigo mesma extasiada por teóricos clássicos ou pelos pensamentos ditos revolucionários atuais? Por que eu detesto tanto as pessoas que ficam fazendo perguntas ou observações estúpidas só para evitar o silêncio? Eu conseguirei ser pontual? Quando o que eu começo terá forças para me arrebatar até eu conseguir chegar ao fim? O que é o fim?